segunda-feira, 1 de julho de 2013

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte II

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 

"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"


2. “Filha, a tua fé te salvou” (Lc 8,48)

Uma mulher doente, no meio da multidão, seguia Jesus e procurava 
chegar perto dele para o tocar, ainda que fosse apenas nas suas vestes. Na sua fé simples, ela compreendeu que Jesus tinha a força de Deus para ajudá-la e quis aproximar-se dele. Conseguiu e foi curada. Jesus a confortou e disse: “filha, a tua fé te salvou”. Esse encontro a fez experimentar a ação salvadora de Deus. Como ela, tantos doentes e outras pessoas, como Zaqueu, a Samaritana, Maria Madalena, o bom ladrão e Saulo, tiveram encontros semelhantes com o Mistério de Deus, presente na pessoa de Jesus Cristo. 
Esses encontros com Deus transformaram suas vidas.

A fé é um dom, uma graça sobrenatural e uma capacidade interior, que Deus dá a todos os que a pedem e procuram. O Papa Bento XVI disse várias vezes que a nossa fé cristã não vem como conclusão de um raciocínio lógico perfeito, nem de um alto ideal ético; essas coisas podem ser boas, mas ainda não fazem nascer a fé, que vem de uma experiência pessoal e comunitária muito bonita: nasce do encontro pessoal com Deus, por meio de Jesus Cristo.

Sim, porque Deus não é uma ideia abstrata, nem uma energia cósmica, mas um ser pessoal, um “Tu”, que se relaciona conosco como um Pai e com quem também nós podemos relacionar-nos como filhos. Embora sejamos pobres criaturas, recebemos esta capacidade maravilhosa de sintonizar com Deus. E o encontro com Deus acontece quando O procuramos e nos abrimos a Ele; e pode ser surpreendente. A fé, mais que uma postura intelectual, é nossa resposta e adesão a Deus e se traduz numa relação vital, pessoal e comunitária com Ele.

Mas a fé também é um ato humano. Mediante o dom sobrenatural da fé, somos capazes de reconhecer a Deus e de aderir a Ele com firme certeza interior e de orientar nossa vida para Ele; somos capazes de reconhecer sua vontade e de acolhê-la livremente com nossa vontade e nossos afetos. De muitas maneiras Deus vem ao nosso encontro e se manifesta a nós; mas é Senhor, especialmente através de Jesus Cristo, Filho de Deus que se fez homem, que nós conhecemos a Deus: “ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem O deu a conhecer” (Jo 1,18). 

O dom da fé é como uma luz interior, que nos faz reconhecer Deus, como Deus; e nos leva a assumir nosso lugar de criaturas. Pela luz da fé cristã, aprendemos a ver nossa vida, as outras pessoas, o mundo e todas as coisas de um modo novo.
“Todos vós sois filhos de Deus pela fé no Cristo Jesus” (Gl 3,26). Pelo dom precioso da fé cristã, reconhecemos Deus como Pai amoroso, e Jesus Cristo como Filho de Deus, nosso Salvador e Irmão; e o Espírito Santo nos concede a graça e a capacidade de nos reconhecermos filhos queridos de Deus e de agir como familiares e íntimos de Deus, que procuram, em tudo, fazer o que é conforme Deus. Pelo dom da fé, também nos tornamos capazes de aderir às verdades da fé, que decorrem do Evangelho de Cristo e do 
testemunho dos Apóstolos, dos Santos e da Igreja; essas verdades da fé são preservadas e transmitidas de geração em geração, com carinho e fidelidade pela Igreja, comunidade de fé.

Na Bíblia, temos muitos outros personagens, que tiveram encontros especiais com Deus e foram pessoas de grande fé: Abraão ouviu o chamado de Deus e seguiu sua voz, na certeza de que Deus é fiel; Moisés, no alto da montanha, ficou frente a frente com Deus; tornou-se amigo de Deus e grande servidor do seu povo, em nome de Deus; os Profetas arderam de zelo por Deus e enfrentaram toda sorte de perseguições, por serem testemunhas de Deus; Maria e José, pessoas de fé, colocaram-se inteiramente a serviço da obra de Deus. Também os apóstolos, Zaqueu, o centurião romano... e, depois deles, ao longo da história da Igreja, quantas pessoas tiveram 
grande fé e até deram a vida pela fé no martírio, de modo heroico, porque tinham uma experiência profunda do encontro com Deus, com quem se relacionavam de maneira pessoal pela oração, a escuta da sua Palavra e a obediência aos seus mandamentos.

Mas também aparecem na Bíblia, e até hoje, pessoas que, apesar de se encontrarem com Deus, por meio de Jesus e da Igreja, não lhe deram ouvidos nem mudaram de vida. Assim, Herodes perdeu a chance de se encontrar com o mistério de Deus, manifestado no menino Jesus, que fez resplandecer a glória de Deus aos pastores e aos reis magos em Belém; tantas outras pessoas encontraram Jesus e o desprezaram, não reconhecendo nele o “sinal de Deus”; o jovem rico esteve frente a frente com Jesus, mas não teve a coragem de segui-lo, preferindo ficar com seus bens... Outros seguiam Jesus apenas por interesse ou vantagem, mas o abandonaram, quando Ele lhes falou que era preciso ficar firmes, mesmo tendo que tomar a cruz e seguir atrás dele...

Tantos discípulos, ouvindo as palavras de Jesus sobre o “pão da vida” (cf Jo. 6), foram-se embora, achando que a ‘lógica de Deus” é muito difícil de ser abraçada. Pedro, em nome dos apóstolos, disse a palavra iluminadora: 
“Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus” (cf Jo 6,69). Crer é levar Deus a sério, colocar fé nas suas palavras, que não enganam e só querem o nosso bem. 

Ter fé, é colocar-se nas mãos de Deus e deixar-se conduzir por Ele.

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