terça-feira, 30 de julho de 2013

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte VI

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 




"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"



6. “A fé vem da pregação da Palavra de Cristo” (cf Rm 10,17)


A fé é a resposta do homem a Deus, que vem ao seu encontro e se manifesta a ele. A resposta do homem não se dá simplesmente no pensamento, na reflexão intelectual ou num sentimento vago, mas com uma adesão pessoal, que muda a vida e leva a converter-se, como fruto dessa adesão a Deus. A fé, como já dissemos, é resultante de uma dupla ação: do Espírito Santo, que move o coração humano a crer, e da própria pessoa, que diz, com a palavra e a vida: “eu creio!”
A fé, portanto, não é fruto apenas de discursos e esforços humanos; e a Igreja aconselha a buscar a fé, com todo o empenho e oração, e chama à fé mediante o anúncio da Palavra de Deus, que tem o poder de tocar-nos interiormente e de nos levar ao ato de fé. Eis porque o anúncio e a acolhida da Palavra de Deus são tão necessários!
A “pregação” e a acolhida da Palavra podem acontecer de muitas maneiras: na leitura pessoal da Sagrada Escritura, nas celebrações litúrgicas, nos retiros e encontros de formação, na conversa com outras pessoas. O testemunho de vida cristã vivida com dignidade, retidão e caridade, na alegria da fé, também são formas de anúncio.
O anúncio da Palavra de Deus é a primeira e mais importante missão da Igreja; e também é a primeira missão das paróquias e comunidades da Igreja, de todas as instituições e organizações pastorais da Igreja, dos grupos e associações de fiéis, de todas as expressões e formas da Vida Consagrada religiosa ou laical, bem como da própria família cristã. Todas as formas organizadas da Igreja, que a constituem e manifestam ao mundo, têm esta missão primeira: anunciar a Palavra de Deus, para que o mundo creia e encontre a salvação e a vida em Jesus Cristo.
Isto deve fazer-nos refletir muito, se estamos, de fato, cumprindo esta nossa missão, enquanto batizados. Sem o anúncio da Palavra de Deus, a fé não desperta; apenas um pouco de anúncio e escuta da Palavra de Deus, acaba resultando na superficialidade e na fraqueza da fé. Não será verdade que o mundo, ao nosso redor, ou até mesmo dentro de nossa casa e na Comunidade da Igreja, tem fome e sede de ouvir a Palavra de Deus?
O profeta Amós anunciava essa fome e sede de Deus: “Dias virão, oráculo do Senhor Deus, em que hei de mandar à terra uma fome, que não será fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor” (cf Am 8-11). Deus colocou essa fome e sede no coração humano; e encarregou-nos de saciar os famintos e sedentos da Palavra de vida, que também se fez “Pão da vida”, em Jesus Cristo (cf Jo 6).

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte V

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 



"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"

5. “Ainda haverá fé sobre a terra?” (Lc 18,8)

Um dia, Jesus fez esta pergunta intrigante aos apóstolos: “O Filho do Homem, quando vier, ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,8). A fé, se não é cultivada, pode esfriar e até se extinguir; e, então, a pessoa já não sente nada em relação a Deus, nem se importa em procurar Deus ou em seguir seus Mandamentos; cai no indiferentismo religioso e vai entrando pelo caminho da negação da fé. Quantas vezes ouvimos dizer que alguém “perdeu” a fé, ou abandonou” a fé”...
A fé perdida deixa um vazio muito grande e faz falta na vida; esse vazio acaba sendo preenchido por outras coisas e ocupações, que vão tomando o lugar de Deus na vida das pessoas. A perda da fé não é, geralmente, um ponto de chegada, mas o início de um caminho que leva à idolatria ou à magia, pois o vazio de Deus precisa ser preenchido no coração humano.
Ídolo é tudo aquilo que toma o lugar de Deus. Muitas vezes, o próprio homem quer tomar o lugar de Deus, proclamando-se o “deus” de si mesmo; esta tentação é tão antiga como a humanidade e, já no paraíso terrestre, Adão e Eva caíram nela: “sereis como Deus!” (cf Gn 3,5).
O abandono da fé em Deus é uma realidade preocupante.
Vivemos um tempo de crise de fé, que se caracteriza pela superficialidade na adesão a Deus e às verdades da fé proclamadas pela Igreja; o subjetivismo leva facilmente as pessoas a escolherem o que mais gostam e traz mais vantagem, em vez daquilo que é “verdade”. Muitos não conhecem mais qual é a nossa fé, nem sabem explicar a si ou aos outros aquilo que faz parte da nossa fé; podemos falar de um analfabetismo religioso bastante comum. Há também a fé apenas vaga e superficial, que não é regularmente
alimentada mediante a prática religiosa e a participação na vida da Igreja, onde a fé pode tornar-se esclarecida e forte. Há ainda o lamentável abandono da fé e da prática religiosa católica, a “migração” de religião para religião, sem aderir com convicção e firmeza a nenhuma. Isso acaba levando ao indiferentismo.
Não é novidade e esses fatos sempre existiram; mas hoje preocupa a dimensão que esse fenômeno alcançou; a pergunta de Jesus manifesta a sua preocupação com relação ao esvaziamento e à perda da fé. Também hoje, isso não pode deixar tranqüilo a ninguém que tem fé firme e ama sua fé e a Igreja, zeladora, testemunha e transmissora da fé herdada dos Apóstolos. É por isso que celebramos o Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI: é
uma ocasião de ouro para uma nova tomada de consciência sobre a nossa fé, para o seu testemunho e proclamação pública e para intensificar a transmissão da fé aos outros.
São Paulo fala dos “filhos na fé” (cf 1Tm 1,2), que ele gerou para a fé em Cristo Jesus mediante o anúncio do Evangelho (cf 1Cor 4,15). Quantos já ajudamos a “nascerem para a fé”? Seria muita pena se nós não transmitíssemos nossa fé aos outros, se esse tesouro precioso fosse enterrado conosco, sem que o tenhamos passado a outros... Seria a falência da missão da Igreja e a frustração da nossa vocação de discípulos de Jesus, enviados ao mundo como missionários para anunciar a Boa Nova a todos os povos, em todos
os tempos (cf Mt 28,19).

terça-feira, 16 de julho de 2013

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte IV

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 



"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"

4. “Faze isso e viverás” (Lc 10,28)

A fé, quando é verdadeira e cultivada, envolve a pessoa inteira e muda a sua vida. O exemplo de Abraão, Moisés e dos profetas, de Maria, José, Paulo e de tantos personagens da Bíblia é bem eloqüente. 
O encontro com Deus leva logo a perguntar: Senhor, o que queres de mim? O que devo fazer? Como devo viver? A fé se traduz numa resposta vital a Deus.
Esta resposta se concretiza na adoração e no louvor a Deus, no reconhecimento da vontade de Deus e na obediência aos seus mandamentos; leva ainda a viver de forma digna de Deus, na retidão e honestidade, abandonando o pecado, os vícios e o que não fica bem para um filho de Deus; a fé nos aproxima de Deus e nos faz filhos e amigos de Deus; e nos leva a sermos colaboradores na obra de Deus.
A fé precisa ser traduzida numa vida de fé, para agradar a Deus e para obter a salvação. Sem a fé, ninguém é tornado justo diante de Deus, nem se pode conseguir a vida eterna sem perseverar na fé até o fim (cf Mt 10,22;24,13). Mediante a vida na fé, começamos a degustar, desde agora, a luz e a alegria da vida eterna, que é a meta de nossa caminhada terrena. A fé é o começo da vida eterna, quando veremos Deus “face a face” (cf 1Cor 13,12), tal como Ele é (cf 1Jo 3,2). Mas durante esta vida ainda estamos sujeitos ao mal; a fé pode passar por muitas provas e até por períodos de obscuridade.
E, então, é preciso perseverar, permanecendo firmes; Deus não nega sua ajuda a quem quer caminhar na fé.
A vida na fé faz aparecerem as boas obras, como frutos da fé. Obras da fé são a prática fiel da religião, a vida coerente com a dignidade e o respeito que Deus merece; o amor ao próximo, a prática das virtudes humanas e cristãs e a colaboração generosa para a edificação da convivência humana, conforme Deus. Obra da fé é também o empenho missionário no testemunho cristão, alegre e corajoso, perante o mundo, e na transmissão da fé aos irmãos. Quem descobre o valor da fé cristã, não a retém só para si, mas procura ajudar outros a também descobrirem esse tesouro. Obra grande da fé é ajudar outras pessoas a encontrarem Deus e a acolherem a luz da fé em suas vidas.

(continua...)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

CARTA DE DOM ODILO SOBRE A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
São Paulo, 04 de julho de 2013
Prezados padres, voluntários e famílias hospedeiras

Dentro de poucos dias terá início a Semana Missionária, para a qual nos preparamos com dedicação e esperança! Ela antecede a Jornada Mundial da Juventude, que convoca a todos nós para a missão evangelizadora: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações!” (Mt 28,19).
Desde o primeiro momento em que a Semana Missionária foi proposta, vimos nossa Igreja animada e comprometida com a sua realização. Podemos dizer que ela já gerou muitos frutos de testemunho de fé, acolhida e fraternidade. Ela foi abraçada por bispos, padres, agentes de pastoral e inúmeras pessoas de nossas comunidades e contou também com o interesse e apoio dos órgãos públicos, através dos governantes do Município e do Estado.
 As respostas foram muitas para todas as propostas e necessidades: formação das equipes arquidiocesanas, regionais e paroquiais; oferta de hospedagem para os peregrinos de outros países; voluntariado para todos os serviços necessários; participação significativa na ação entre amigos para angariar recursos para sustentar as atividades da Semana e apoiar os jovens na participação na JMJ, entre outras.
A resposta foi à altura e do tamanho do coração desse povo acolhedor, preparando-nos para receber até 30.000 jovens peregrinos para a Semana Missionária; assim nos tinha sido sugerido e fizemos o que devíamos e podíamos fazer! Na realização dessa tarefa, podemos dizer também como São Paulo: “combati o bom combate!”
As Paróquias e as famílias que se prepararam para a acolhida dos peregrinos estão, naturalmente, aguardando sua chegada para o encontro tão desejado. Sabemos agora, com as informações que temos sobre as inscrições, que nem todos terão esta alegria realizada plenamente, visto que não haverá número suficiente de peregrinos para todas as famílias e paróquias. 
Não nos deixemos tomar por um sentimento de frustração; pelo contrário, alegremo-nos, pois fizemos o que estava ao nosso alcance e tivemos a alegria de constatar tanta generosidade e disponibilidade para acolher os hóspedes; é muito bom saber que ainda continuamos uma comunidade hospitaleira! Estejamos certos de que o Cristo peregrino não deixará de manifestar sua presença em nossa casa e em nosso coração, que se dispôs a acolhê-lo na pessoa do próximo, mesmo desconhecido!
Mas podemos usar nossa criatividade para outras formas de encontro com os peregrinos, cerca de 10.000, que virão de vários países para a nossa Arquidiocese, alguns inscritos para a Semana Missionária da Arquidiocese e, outros, para as atividades organizadas pelas Congregações Religiosas, Novas Comunidades ou Movimentos Eclesiais.
Organizemos visitas às famílias acolhedoras, ou às paróquias do setor, que não estão recebendo peregrinos de outros países, como parte das atividades missionárias.
Organizemos atividades e encontros celebrativos e festivos envolvendo as Paróquias dos Setores! E procuremos envolver especialmente os jovens de nossas comunidades e todo o povo na missão proposta; de fato, a Semana Missionária deve envolver em primeiro lugar os jovens de cada uma de nossas Comunidades, mesmo sem a presença de peregrinos estrangeiros.
E todos nos encontraremos nos momentos fortes de acolhida e de encontro previstos nas Vigílias que realizaremos nas Regiões Episcopais no dia 19 de julho, e na Missa de Envio, no dia 20 de julho, na Praça Heróis da FEB, que será o grande encontro Arquidiocesano.
Logo a seguir, participaremos da JMJ com o Papa Francisco, no Rio de Janeiro. Quem não for ao Rio, é convidado a continuar unido na oração que nos congrega a todos no abraço do Cristo Redentor.
Irmãos e irmãs, recebam o abraço reconhecido da Igreja de São Paulo, com minha saudação e bênção!

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte III

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 

"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"


3. “Perseveravam na doutrina dos Apóstolos” (cf At 2,42)


Muitas vezes, a fé é confundida com um desejo forte, uma vontade grande de querer algo: “tenho muita fé que vou fazer um bom negócio... que vou recuperar a saúde... que vou alcançar a vitória... Tenho fé em tempos melhores...” Esta é uma expectativa humana, mas ainda não é fé religiosa:
só o Mistério de Deus e as coisas que se relacionam com Ele são objeto de fé religiosa. Acima de tudo, cremos “em” Deus, na sua pessoa, no seu ser; todo o resto que cremos, decorre deste primeiro ato de fé: cremos em Deus.

Nossa fé cristã é, pois, mais que um sentimento vago, ou um desejo forte: é a adesão à pessoa de Deus e a tudo o que dele procede. Por isso nós afirmamos que cremos “em”; nossa fé também se traduz em afirmações de fé, em verdades de fé, que nossa inteligência elabora a partir daquilo que cremos. Nossa fé cristã tem, portanto, uma referência comum e nós podemos dizer – “eu creio”, e também - “nós cremos”.

No Batismo, recebemos a fé da Igreja, que se expressa nos artigos do Creio em Deus Pai (Credo); após a profissão de fé, o celebrante conclui com estas palavras: “esta é a nossa fé, que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão da nossa alegria em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
E, então, o celebrante pergunta: “Quereis que vosso filho/filha seja batizado na mesma fé da Igreja, que acabamos de professar?” E os pais e padrinhos respondem: “Queremos!”

Nossa Igreja, nas suas origens, recebeu esta fé do testemunho dos Apóstolos sobre Jesus. Nas origens da Igreja, uma das características da comunidade cristã era a perseverança “no ensinamento dos apóstolos” (cf At 2,42); fiel à “doutrina dos Apóstolos”, a Igreja elaborou os artigos do Creio, já nos primeiros séculos do Cristianismo e, até hoje, persevera nesta fé, não se desviando e procurando permanecer fiel à preciosa “herança apostólica”. A Igreja não “inventa” a cada época a sua fé, nem modifica a fé recebida dos Apóstolos. E nós, pelo Batismo, também acolhemos esse patrimônio da fé da Igreja, enriquecido pelo testemunho dos santos e dos mártires, e pela experiência da Igreja, ao longo dos séculos. É um dom muito precioso, que precisamos conhecer e valorizar!

Cada uma das afirmações do Creio é densa de conteúdo e significado. Para apreciar e amar mais nossa fé, é necessário conhecer melhor o que cremos. Só se valoriza e ama aquilo que se conhece. Por isso mesmo, neste Ano da Fé, somos convidados a conhecer mais e melhor o patrimônio da fé eclesial, explicada no Catecismo da Igreja Católica. Muitos falam e escrevem, por iniciativa pessoal, sobre a fé e a religião católica; por vezes, até se fazem afirmações não corretas, ou se deixam dúvidas no ar... O Catecismo da Igreja Católica nos traz a explicação oficial da fé da Igreja. O Papa e os Bispos, unidos a ele, são os responsáveis maiores por zelar pela fé da Igreja e têm a missão de garantir aos irmãos a correta explicação da fé.

(continua...)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

2ª Carta Pastoral à Arquidiocese de São Paulo Ano da fé 2012-2013 - Parte II

Estamos no Ano da Fé que está sendo contemplado com reflexão baseados em 12 textos da Bíblia os quais publicaremos durante as semanas seguintes, iniciando com um trecho da Carta de apresentação do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
Que possam desfrutar desses momentos para que permaneçam firmes da fé não importando por qual situação estejam passando e possamos juntos dizer:
Senhor aumentai a nossa Fé! 

"...O Ano da Fé é, pois, um “tempo favorável” para renovar o conhecimento e apreço pela fé que recebemos, e para a professarmos com firmeza e alegria. Desejo, com esta Carta Pastoral, oferecer a todos os filhos e filhas da amada Arquidiocese de São Paulo uma reflexão motivadora e, ao mesmo tempo, as necessárias orientações para a vivência do Ano da Fé em nossa Comunidade Eclesial Metropolitana, colocada sob o patrocínio do Apóstolo São Paulo, grande missionário, mestre e testemunha da fé!"


2. “Filha, a tua fé te salvou” (Lc 8,48)

Uma mulher doente, no meio da multidão, seguia Jesus e procurava 
chegar perto dele para o tocar, ainda que fosse apenas nas suas vestes. Na sua fé simples, ela compreendeu que Jesus tinha a força de Deus para ajudá-la e quis aproximar-se dele. Conseguiu e foi curada. Jesus a confortou e disse: “filha, a tua fé te salvou”. Esse encontro a fez experimentar a ação salvadora de Deus. Como ela, tantos doentes e outras pessoas, como Zaqueu, a Samaritana, Maria Madalena, o bom ladrão e Saulo, tiveram encontros semelhantes com o Mistério de Deus, presente na pessoa de Jesus Cristo. 
Esses encontros com Deus transformaram suas vidas.

A fé é um dom, uma graça sobrenatural e uma capacidade interior, que Deus dá a todos os que a pedem e procuram. O Papa Bento XVI disse várias vezes que a nossa fé cristã não vem como conclusão de um raciocínio lógico perfeito, nem de um alto ideal ético; essas coisas podem ser boas, mas ainda não fazem nascer a fé, que vem de uma experiência pessoal e comunitária muito bonita: nasce do encontro pessoal com Deus, por meio de Jesus Cristo.

Sim, porque Deus não é uma ideia abstrata, nem uma energia cósmica, mas um ser pessoal, um “Tu”, que se relaciona conosco como um Pai e com quem também nós podemos relacionar-nos como filhos. Embora sejamos pobres criaturas, recebemos esta capacidade maravilhosa de sintonizar com Deus. E o encontro com Deus acontece quando O procuramos e nos abrimos a Ele; e pode ser surpreendente. A fé, mais que uma postura intelectual, é nossa resposta e adesão a Deus e se traduz numa relação vital, pessoal e comunitária com Ele.

Mas a fé também é um ato humano. Mediante o dom sobrenatural da fé, somos capazes de reconhecer a Deus e de aderir a Ele com firme certeza interior e de orientar nossa vida para Ele; somos capazes de reconhecer sua vontade e de acolhê-la livremente com nossa vontade e nossos afetos. De muitas maneiras Deus vem ao nosso encontro e se manifesta a nós; mas é Senhor, especialmente através de Jesus Cristo, Filho de Deus que se fez homem, que nós conhecemos a Deus: “ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem O deu a conhecer” (Jo 1,18). 

O dom da fé é como uma luz interior, que nos faz reconhecer Deus, como Deus; e nos leva a assumir nosso lugar de criaturas. Pela luz da fé cristã, aprendemos a ver nossa vida, as outras pessoas, o mundo e todas as coisas de um modo novo.
“Todos vós sois filhos de Deus pela fé no Cristo Jesus” (Gl 3,26). Pelo dom precioso da fé cristã, reconhecemos Deus como Pai amoroso, e Jesus Cristo como Filho de Deus, nosso Salvador e Irmão; e o Espírito Santo nos concede a graça e a capacidade de nos reconhecermos filhos queridos de Deus e de agir como familiares e íntimos de Deus, que procuram, em tudo, fazer o que é conforme Deus. Pelo dom da fé, também nos tornamos capazes de aderir às verdades da fé, que decorrem do Evangelho de Cristo e do 
testemunho dos Apóstolos, dos Santos e da Igreja; essas verdades da fé são preservadas e transmitidas de geração em geração, com carinho e fidelidade pela Igreja, comunidade de fé.

Na Bíblia, temos muitos outros personagens, que tiveram encontros especiais com Deus e foram pessoas de grande fé: Abraão ouviu o chamado de Deus e seguiu sua voz, na certeza de que Deus é fiel; Moisés, no alto da montanha, ficou frente a frente com Deus; tornou-se amigo de Deus e grande servidor do seu povo, em nome de Deus; os Profetas arderam de zelo por Deus e enfrentaram toda sorte de perseguições, por serem testemunhas de Deus; Maria e José, pessoas de fé, colocaram-se inteiramente a serviço da obra de Deus. Também os apóstolos, Zaqueu, o centurião romano... e, depois deles, ao longo da história da Igreja, quantas pessoas tiveram 
grande fé e até deram a vida pela fé no martírio, de modo heroico, porque tinham uma experiência profunda do encontro com Deus, com quem se relacionavam de maneira pessoal pela oração, a escuta da sua Palavra e a obediência aos seus mandamentos.

Mas também aparecem na Bíblia, e até hoje, pessoas que, apesar de se encontrarem com Deus, por meio de Jesus e da Igreja, não lhe deram ouvidos nem mudaram de vida. Assim, Herodes perdeu a chance de se encontrar com o mistério de Deus, manifestado no menino Jesus, que fez resplandecer a glória de Deus aos pastores e aos reis magos em Belém; tantas outras pessoas encontraram Jesus e o desprezaram, não reconhecendo nele o “sinal de Deus”; o jovem rico esteve frente a frente com Jesus, mas não teve a coragem de segui-lo, preferindo ficar com seus bens... Outros seguiam Jesus apenas por interesse ou vantagem, mas o abandonaram, quando Ele lhes falou que era preciso ficar firmes, mesmo tendo que tomar a cruz e seguir atrás dele...

Tantos discípulos, ouvindo as palavras de Jesus sobre o “pão da vida” (cf Jo. 6), foram-se embora, achando que a ‘lógica de Deus” é muito difícil de ser abraçada. Pedro, em nome dos apóstolos, disse a palavra iluminadora: 
“Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus” (cf Jo 6,69). Crer é levar Deus a sério, colocar fé nas suas palavras, que não enganam e só querem o nosso bem. 

Ter fé, é colocar-se nas mãos de Deus e deixar-se conduzir por Ele.