segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FORMAÇÃO - EMAÚS PASSO A PASSO - PARTE II


(...continuação)

2º PASSO: (Lc 24,18-24)

 9- Inicialmente, um dos discípulos, chamado Cléofas, em tom irônico, em vez de responder a pergunta de Jesus, faz-lhe outra, pois sentiam-se bem informados, e só mesmo um estrangeiro, desligado portanto do ideal de um povo, podia ignorar o que se passara naqueles dias em Jerusalém. Jesus não condena a ironia do discípulo e provoca então a reflexão, perguntando sobre o acontecido, mais uma vez colocando-se como desinformado.

10- Nos textos, os discípulos abrem então o verbo, como diríamos, e narram os fatos a Jesus, mostrando porém mal formados e informados,  pois o objeto de suas esperanças, como também de todo o Israel, era um Jesus-Messias, político e libertador, que de fato libertasse a nação das garras do Império ("Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel..." [24,21]). Vejam quem mesmo sendo bons discípulos de Jesus, não demonstram, de início, ter aquela sede do Deus vivo, como a tinham os salmistas piedosos (Cf. Sl 42(41),2; 63(62),2), mas identificam-se com a maioria dos judeus de seu tempo. Mesmo na aprendizagem com o Mestre, ainda havia em suas cabeças resquícios de ideologias não libertadoras. 

3º PASSO (Lc. 24,25-27)


11- Aqui podemos dizer que a censura de Cristo aos discípulos, inicialmente, tem também um gostinho indulgente, quando os julga "lentos de coração" para entender as profecias messiânicas, uma vez que estas vêm acompanhadas de dimensão mistérica. Lentos de coração pode significar certo descaso para entender e sentir, de maneira viva, o que Deus revelava através dos profetas. Não significava, porém, no pensamento de Jesus uma lentidão da cabeça, da mente, do intelecto, racional, ou seja, uma pequenez do que é puramente humano, uma vez que o que Deus revelava não estava, muitas vezes, ao alcance da simples razão humana, pois porque Deus sempre fala, inicialmente, ao coração.
Em Os 11,7, conforme algumas traduções, Deus já lamentava a lentidão do povo, que não sabia de modo algum elevar-se, quando chamado do alto. Então, na continuação do texto em estudo, Jesus, como autêntico catequista do Reino, dá aos dois discípulos uma catequese da história da salvação, começando por Moisés e por todos os profetas, o que fez arder o coração dos discípulos. Aqui, pois, é o coração que "arde", no silêncio renovador, e não tanto a razão que assimila, simplesmente em conceitos. 

12- É interessante notar que somente depois que os discípulos mostraram toda a sua realidade interior e limitações humanas é que Jesus se põe a evangelizá-los. Às vezes, isto não acontece conosco. Gostamos, não raro, de ir pregando para outras vidas sem conhecê-las devidamente, sem saber qual é a dimensão de seu vazio ou o nível de riqueza que elas já trazem. Não nos esqueçamos de que o Evangelho é profundamente humano, e quando pensamos que estamos levando-o a alguém, não raro ele aí já se encontra, às vezes até num grau maior do que em nós.

 Nota: Aqui, deve-se abrir um parêntese para verificar o modelo das atividades missionárias da Igreja, tanto no passado como no presente, sendo que, no presente, há uma consciência maior da Igreja no tocante a esse fato, como se comenta no número dezenove deste trabalho.


(Pe. Valdiran Santos)


(continua...)

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