quinta-feira, 1 de março de 2012

FORMAÇÃO - EMAÚS PASSO A PASSO - PARTE III


(...continuação)


4º PASSO (Lc 24,28-32)

13- Já aqui, aproximando-se da aldeia para onde iam, Jesus provoca neles uma atitude fraterna, "fazendo de conta que ia mais adiante". Lucas, que gosta de detalhes, para enfatizar temas a ele caros, deixa transparecer aqui o desejo de Jesus de ser convidado para um repouso, para uma refeição judaica, costume próprio do povo de Israel, e que, no pensamento de dele (Jesus), naquela noite, ia revestir-se de um sentido novo. Também a atitude de Jesus é simpática aos olhos do evangelista, ao valorizar a simplicidade daqueles discípulos, agora o tratando não mais como forasteiro, mas como amigo e desejado hóspede.

14- O texto fala, pois, da insistência dos discípulos para que Jesus permanecesse com eles. Hoje sabemos, pelo contexto, que não era preciso insistir tanto, dado o desejo do próprio Senhor, revelado pelo evangelista. Veja-se a sublimação de toda verdadeira evangelização: os evangelizados insistem para que o evangelizador permaneça com eles, e até apontam um motivo, que é simples, e, ao mesmo tempo, simbólico: cai a tarde e o dia já declina. Não seria este, depois, um pedido também de todo cristão para que Jesus com ele permaneça sempre, principalmente no entardecer da vida?


15- É consolador verificar que Jesus provoca e aceita um encontro mais íntimo e espiritual com os discípulos. E como se deu esse encontro? Juntos à mesa, numa refeição judaica, é verdade, mas também, segundo Lucas, em sentido celebrativo. Aqui o verbo que dá ênfase ao momento é, portanto, celebrar. E Lucas tem a clara intenção de, narrando uma refeição comum, dirigir nossa atenção para a Eucaristia. O rito do versículo trinta é o mesmo da instituição eucarística, como se vê em Lc 22,19. Nesse momento, narra o Evangelho, os discípulos reconhecem o Cristo Ressuscitado. 

16- O texto de Emaús já nos aponta a convicção da Igreja: é no partir o pão, isto é, na celebração da Eucaristia, como o ponto mais alto da Liturgia, que podemos reconhecer Jesus Cristo plenamente como o nosso Salvador, ao mesmo tempo em que somos despertados para a nossa vida de comunhão e de partilha. Alargando ainda mais o nosso horizonte de compreensão eucarística, podemos também observar que os discípulos de Emaús não faziam parte do grupo dos Apóstolos, por isso não estavam presentes na última ceia. Assim, o rito da fração do pão que, sacramentalmente, só viveriam depois, realizou neles, antecipadamente, a importância vital da Eucaristia.

17- Parece que Lucas quis de fato deixar transparecer esta verdade, ao falar de fração do pão, pois este era o nome da missa nos primórdios da Igreja (cf. At 2,42). Observemos também que todo o episódio de Emaús se assemelha aos ritos da celebração litúrgica da missa: uma interiorização pelos caminhos, com questionamentos, como nos ritos iniciais; uma Palavra viva, de Cristo, iluminando a vida, como na Liturgia da Palavra; e, culminando, a refeição celebrativa, como na parte eucarística da missa. 

18- Como vimos na reflexão acima, a Palavra prepara então a Eucaristia, e tal se deu também no episódio de Emaús: a palavra de Jesus fazia arder o coração dos discípulos, no caminho, mas não lhes dava ainda a capacidade de reconhecê-lo plenamente. Isto só aconteceu quando se puseram à mesa e partiram o pão. Daí então, no mistério da liturgia, a presença de duas mesas: a da Palavra, que orienta para a Eucaristia, já como alimento redentor, e a mesa eucarística, que dá culminância e plenitude à Palavra. Se o Verbo se fez carne e habitou entre nós, no Mistério da Encarnação, (cf. Jo 1,14), no Mistério da Páscoa o Verbo se faz Pão, para ser nosso alimento eterno (cf. Jo 6,35).


19- Outro dado importante no acontecimento de Emaús, e que serve de modelo para todo processo de evangelização, é que a celebração vem como culminância da caminhada e do processo. Em Emaús, só depois da preparação, evangelização e catequese é que se celebra, o que, em parte, hoje também já acontece na ação missionária da Igreja: procura-se conhecer primeiro, de maneira objetiva, toda a realidade dos povos, pessoas ou grupos a serem evangelizados, no tocante inclusive a seus valores, culturas e tradições. Podemos dizer, após límpida reflexão, que tudo deve convergir para a celebração, como em Emaús, ao mesmo tempo que afirmamos, sem paradoxo, que a celebração é fonte de todo trabalho apostólico e missionário. Não nos esqueçamos de que, se em Emaús, os discípulos só reconheceram o Senhor ressuscitado na fração do pão, depois de o reconhecerem, sem medir consequências, partiram para Jerusalém, a fim de anunciar a ressurreição.
(continua...)
Pe. Valdiran Santos

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