segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

LEITURA ORANTES EMAÚS - PARTE V


A chave para descobrir a Palavra de Deus na vida é esta: alimentar em nós “os mesmos sentimentos que animavam Jesus” (Fl 2,5); buscar uma profunda experiência de Deus e, ao mesmo tempo, como Jesus e como Servo, estar muito atento aos problemas das pessoas desanimadas que precisam de uma palavra de conforto.
Como conseguir esta atitude, este olhar? Como criar em nós os mesmos sentimentos que animavam Jesus? Aqui seguem três sugestões ou conselhos: 1. Seguir Jesus; 2. Usar o método de Jesus; 3. Criar um contexto comunitário orante.
1. Seguir Jesus
O seguimento de Jesus tinha três dimensões que perduram até hoje e que formam o eixo central do processo de formação dos discípulos e da assimilação do jeito de viver de Jesus:
* Imitar o exemplo do Mestre:
Jesus era o modelo a ser recriado na vida do discípulo ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária com o mestre permitia um confronto constante. Nesta “escola de Jesus” só se ensinava uma única matéria: o Reino! E este Reino se reconhecia na vida e na prática do Mestre. Isto exige de nós leitura e meditação constantes do evangelho para olharmos no espelho da vida de Jesus.
* Participar no destino do Mestre:
A imitação do Mestre não era um aprendizado teórico. Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e “estar com ele nas tentações” (Lc 22,28), inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com ele (Mc 8,34-35; Jo 11,16). Isto exige de nós um compromisso concreto e diário de fidelidade com o mesmo ideal com que Jesus, fiel ao Pai, se comprometia.
* Ter a vida de Jesus dentro de si:
Depois da Páscoa, surge uma terceira dimensão, fruto da ação do Espírito de Jesus na vida das pessoas que levava os primeiros cristãos a dizer: “Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Eles procuravam refazer em suas vidas a mesma caminhada de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11). Isto exige de nós uma espiritualidade de entrega contínua, alimentada na oração.
2. Usar o método de Jesus na leitura e interpretação da Bíblia (EMAÚS)
No episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), Lucas apresenta Jesus como intérprete da Bíblia e nos ensina como devemos ler a Escritura. O processo de interpretação seguido por Jesus tem os seguintes passos, misturados entre si:
1º Passo: partir da realidade (Lc 24,13-24)
Jesus encontra os dois discípulos numa situação de medo e dispersão, de descrença e desespero. Eles estavam fugindo. A morte de Jesus na cruz, tinha matado neles a esperança: “Nós esperávamos que ele fosse o libertador, mas…” (Lc 24,21). Jesus se aproxima e caminha com eles, escuta a conversa e pergunta: “De que vocês estão falando? Por que estão tristes?” Mas eles não o reconheciam. Não percebiam a presença da Palavra de Deus que já estava com eles, na vida deles.
O 1º passo é aproximar-se, caminhar junto, escutar a realidade, os problemas; ser capaz de fazer perguntas que ajudem a pessoa a olhar a realidade com um olhar mais crítico.
2º Passo: usar a Bíblia (Lc 24,25-27)
Jesus usa a Bíblia não para dar uma aula sobre a Bíblia, mas para iluminar o problema que fazia sofrer os dois discípulos, para esclarecer a situação que estavam vivendo e para mostrar que a história não tinha escapado de mão de Deus.
O 2º passo é este: com a ajuda da Bíblia, iluminar os fatos e situá-los dentro do conjunto do plano de Deus, transformar a cruz, sinal de morte, em sinal de vida e de esperança. Assim, aquilo que os impedia de caminhar, tornou-se a força principal na caminhada, a nova luz no caminho.
3º Passo: partilhar na comunidade (Lc 24,28-32)
A Bíblia, ela por si, sozinha, não abriu os olhos dos dois, mas a sua leitura e interpretação fizeram arder neles o coração (Lc 24,32), e isto é muito importante. O que faz enxergar mesmo, é o gesto comunitário da hospitalidade, da oração em comum, da partilha do pão ao redor da mesa. No momento em que é reconhecido, Jesus desaparece, e eles mesmos ressuscitam e renascem.
O 3º passo é este: saber criar um ambiente de fé, de fraternidade e de partilha, onde possa atuar o Espírito Santo que nos faz entender o sentido das coisas que Jesus falou, e produz em nós uma experiência de ressurreição e de vida nova (cf. Jo 14,26; 16,13).
Objetivo: Ressuscitar e voltar para Jerusalém (cf Lc 24,33-35)
Imediatamente, eles levantam e voltam para Jerusalém. Tudo mudou: coragem, em vez de medo; retorno, em vez de fuga; fé, em vez de descrença; esperança, em vez de desespero; consciência crítica, em vez de fatalismo frente ao poder; liberdade, em vez de opressão! Em vez da má noticia da morte, a Boa Notícia da Ressurreição!
O objetivo da leitura orante da Bíblia, é este: criar coragem e voltar para Jerusalém, onde continuam vivas as forças de morte que mataram Jesus. Os dois discípulos, eles mesmos ressuscitaram. Venceram o medo da morte e das forças da morte.

(Pe. Valdiran Santos)
(...continua)

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