domingo, 27 de novembro de 2011

LEITURA ORANTES EMAÚS - PARTE IV




O Testemunho de Jesus

   Os textos do Servo de Javé (cf Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12; 61,1-2) foram a ação para Jesus descobrir e assumir sua vocação como Messias.
   Este texto do Servo que acabamos de ler (Is 50,4-5) é uma espécie de auto-retrato do próprio Jesus. Como o Servo do livro de Isaías, Jesus meditava e escutava a Palavra de Deus. Diz o evangelho de Marcos: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Jesus passava noites em oração, meditando a Palavra de Deus (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,18.28; 11,1).
   Na raiz da leitura que Jesus fazia da Palavra de Deus estava a sua experiência de Deus como Pai. A intimidade com o Pai dava a ele um critério novo, um olhar mais penetrante, que o colocava em contato direto com Deus, o autor tanto da Bíblia como da vida. Por isso São Paulo recomenda: “Procurem ter em vocês os mesmos sentimentos que animavam Jesus” (Flp 2,5). Pois se tivermos em nós os mesmos sentimentos de Jesus, teremos também o mesmo olhar com que Jesus lia a Bíblia. A seguinte comparação ajuda para entender este assunto.
   Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a idéia de se tratar de uma pessoa inflexível e antipática que não permitia intimidade. Enquanto comentavam a fotografia, chegou um rapaz, viu a fotografia e exclamou: “É meu pai!” Os outros olharam para ele e disseram: “Pai severo, hein!” Ele respondeu: “Não é não! Meu pai é muito carinhoso. Ele é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uns pobres para apropriar-se do terreno deles e construir um prédio grande para alugar e assim ganhar mais dinheiro”. Meu pai defendeu os direitos dos pobres e ganhou a causa. Até hoje os pobres continuam morando em suas casas. Graças a Deus!” Todos olharam de novo a fotografia e alguém comentou: “Que fotografia simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e começou a tomar um outro aspecto. Aquele rosto tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! A experiência do filho, sem mudar um traço sequer, mudou tudo.
  Olhando as fotografias do Antigo Testamento, o povo no tempo de Jesus imaginava Deus como alguém distante, severo, de difícil acesso, cujo nome nem sequer podia ser pronunciado. Em vez de Javé diziam Adonai, isto é, Senhor. Jesus chegou e disse: “É meu Pai!” As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de Filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer (cf. Mt 5,18), mudaram todo o sentido do Antigo Testamento. A Bíblia se iluminou por dentro. O mesmo Deus que parecia tão distante e severo adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura, sempre presente, pronto para acolher e libertar!
   O Novo Testamento é uma releitura do Antigo Testamento feita à luz da nova experiência de Deus como Pai e Mãe, revelada e partilhada a nós por Jesus.

(Pe. Valdiran Santos)

(continua...)

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