Os gestos simbólicos do Papa Francisco
O novo Papa
Francisco, antes de pronunciar discursos e escrever encíclicas foi
realizando uma série de gestos simbólicos de grande carga significativa que
foram facilmente captados por todo o mundo e foram amplamente difundidos pelos
meios de comunicação.
Estes gestos foram mudando o ambiente eclesial dominante,
aproximaram a Igreja do mundo de hoje e suscitaram a esperança de uma nova
primavera eclesial: proclama-se simplesmente Bispo
de Roma, assume o nome de Francisco, o poverello de Assis que queria reformar a Igreja, pede
orações por ele ao povo, beija um menino deficiente e abraça um homem com o
rosto totalmente deformado, na Quinta-Feira Santa lava os pés de uma jovem
muçulmana de uma prisão, em Assis come com crianças com síndrome de
Down, vai à ilha de Lampedusa em sua primeira viagem para fora de Roma e joga uma coroa de flores amarelas e
brancas ao mar em memória dos emigrantes mortos, convoca um dia mundial de oração e de jejum
pela paz na Síria interpelado
fortemente pelos rostos das crianças mortas por armas químicas, usa seus
sapatos velhos em vez dos sapatos vermelhos de seu antecessor, opta por não
morar nos Palácios Apostólicos
Vaticanos, mas na residência de Santa
Marta, viaja por Roma em um carro simples e pequeno para não
escandalizar as pessoas dos bairros periféricos populares, responde a perguntas
de um jornalista não crente, convida rabinos da Argentina para visitá-lo em Santa Marta, presenteia sapatinhos para o neto de Cristina Fernández de Kirchner,
recebe Gustavo Gutiérrez, o pai
da Teologia da Libertação,
leva um ramo de flores à sepultura do Pe. Pedro Arrupe,
convida quatro mendigos para o seu aniversário, visita favelas no Rio e casas de migrantes africanos em Roma...
Estas “florzinhas do Papa
Francisco”, assim como as “florzinhas de João XXIII”, foram
facilmente entendidas pelo povo.
Os especialistas em semiótica ressaltam o valor significativo
dos gestos simbólicos, que vão além das palavras, pois os símbolos sempre dão o
que pensar. Isto é verdade, mas à margem desta explicação semiótica, há outra
razão mais profunda que explica esta mudança de receptividade eclesial e
mundial: estes gestos simbólicos de Francisco têm um profundo sabor evangélico,
têm o cheiro do Evangelho, de Jesus
de Nazaré. Por isso, não apenas seus gestos, mas também suas palavras são
acolhidas agora de uma forma nova.
O que Francisco diz e faz não é senão traduzir o
Evangelho para o mundo de hoje: está mais preocupado com a fome no mundo do que
com os problemas intraeclesiais, afirma que mais do que se centrar
obsessivamente nos problemas morais é preciso anunciar a grande alegria da
salvação que vem de Jesus, sonha que a Igreja seja uma Igreja pobre e dos
pobres.
Pouco a pouco foi acrescentando aos gestos simbólicos mensagens
de grande conteúdo pastoral, desde as suas homilias diárias na Capela de Santa Marta até a Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Se João Paulo II e Bento XVI eram professores universitários,Francisco é, sobretudo, pastor, como João XXIII.
Mudou totalmente o clima pastoral, há um ar novo vindo desta vez
do Sul, “do fim do mundo”, do mundo dos pobres. Os gestos e palavras de Francisco não são fruto de uma improvisação, mas
consequência do seu trabalho pastoral emBuenos Aires, do seu contato com
o povo, com as favelas, com os padres “villeros”. Mudou também o clima
eclesial, há alegria e entusiasmo entre os fiéis, há expectativa e surpresa nos
ambientes sociais e políticos que o nomearam o Homem do Ano; 2013 foi o
ano do Papa Francisco.
(....continua)
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