(...continuação)
11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem
encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica.
Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na
Constituição Apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do
trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo
II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de
renovação de toda a vida eclesial (...). Declaro-o norma segura para o ensino
da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão
eclesial».
É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço
generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da
fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e
orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu,
guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada
Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que
atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos
inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para
dar certeza aos crentes na sua vida de fé.
Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o
desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando
as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o
encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de
fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e
operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os
sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que
sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo
sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação
com a fé, a liturgia e a oração.
12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um
verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a
formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal
finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum
acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, uma Nota, através da qual se
ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais
eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.
De facto, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série
de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, particularmente
hoje, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e
tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver
qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas tendem, embora por
caminhos diferentes, para a verdade.
13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz
ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a
primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram
para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o
segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para
experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.
Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e
consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e
anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação
e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida
sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua
Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana
para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado
para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes
dois mil anos da nossa história de salvação.
Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria
Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel,
elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em
quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à
luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7).
Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da
perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na
sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com
fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração
a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no
Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1, 14; 2, 1-4).
Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10, 28).
Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e
realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus,
que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela
qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele
(cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de
levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor algum,
anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.
Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino
dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo
que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho
que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com
o perdão dos seus próprios perseguidores.
Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para
viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais
concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos
cristãos se fizeram promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar
palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um
ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo
nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza
de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu
ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos
carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na
nossa vida e na história.
14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho
da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a
esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com
palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –,
afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem
fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma
irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes
disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes
dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé:
se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém
alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua
fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2,
14-18).
A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento
constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal
modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho. De facto, não poucos
cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou
excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a
socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo.
Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do
Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais
pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são
uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos
aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é
o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no
caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no
mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped
3, 13; cf. Ap 21, 1).
15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que
«procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf.
2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém
se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com
um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a
identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós
a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o
mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos,
iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o
coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira,
aquela que não tem fim.
Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano
da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele
temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e
duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de
luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum
tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade
genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo
também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra,
na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem
O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e
irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped
1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do
sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos
dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As
provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e
participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e
da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2
Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e
a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio
de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade
visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação
definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos
este tempo de graça.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de
Pontificado.
Minha fé é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o
corpo de um irmão.
Minha fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda
solidária
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no
seu poder de diferença.
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