(...continuação)
PASSAGENS DE EMAÚS, PASSAGENS TAMBÉM NOSSAS
24- Acabamos de ver, de maneira simples e resumida, como o episódio dos discípulos de Emaús constitui sábia pedagogia no processo da formação cristã, em todas as suas dimensões. Vamos agora ver como podemos nos situar no mesmo itinerário, já conscientes de que a passagem e caminhada de Jesus com os discípulos também se renova em cada um de nós, principalmente na dimensão comunitária, ou seja, no viver consciente da fé em comunidade.
25- Reforçando, pois, o tema da vida em comunidade, lembremo-nos de que dois são os discípulos de Emaús, como Onze (os Apóstolos) são os que recebem em Jerusalém a notícia da ressurreição, além de outros discípulos. Somente em situações especiais, é que o evangelho costuma particularizar um fato. Tal se dá, por exemplo, com a aparição a Maria Madalena, mas também ela não guarda para si a alegria do acontecimento e vai anunciá-lo aos discípulos (cf. Mc 16,9-10; Jo 20,11). Diante do acontecimento de Emaús, e de suas conotações comunitárias, devemos também nós passar:
• Do afastamento - para a aproximação
• Da partida - para o retorno
• Do isolamento e da solidão - para a comunhão
• Do fechamento - para a abertura
• Da cegueira - para a iluminação
• Do lamento - para o agradecimento
• Da tristeza - para a alegria
• Do não reconhecimento - para o reconhecimento
• Da lentidão - para a prontidão
• Do vazio do coração - para o ardor do Espírito
• Da escuridão - para a luz
• Do refúgio e da acomodação - para a missão apostólica
26- Como conclusão, também nós, após encontrar e reconhecer o Senhor em nossas vidas, devemos voltar para os irmãos, não cabisbaixos, tristes e sombrios, mas alegres e esperançosos. Devemos aprender com Jesus: a aproximação, o colocar-se ao lado dos caminhantes sofridos, sem esperança e frustrados; o ouvir, em primeiro lugar, as suas queixas; o respeito para com os seus limites e suas precariedades, como também o reconhecimento de suas qualidades e virtudes. Com o Senhor devemos ainda aprender a falar, na hora certa, o essencial, a valorizar os pequenos gestos e a dar graças pelo pão partilhado.
27- Com os seguidores de Jesus devemos aprender também, como é o caso dos discípulos de Emaús. Eles nos ensinam: a aceitar o outro, mesmo estrangeiro, em nossa caminhada, evitando assim o nosso elitismo ou nossas panelinhas; a ouvi-lo, mesmo que aquilo que ele tem a dizer não tem importância objetiva para a nossa vida; a elogiá-lo, quando suas palavras fazem arder também o nosso coração; a não censurá-lo, quando seus questionamentos de nossas atitudes e de nossa formação não param em simples questionamentos, mas nos orientam para a nossa verdadeira posição no corpo da Igreja e da família humana.
28- Vejam como tantos são, pois, os ensinamentos de uma simples passagem bíblica! Oxalá não substituamos nós a Bíblia Sagrada, este profundo manancial da salvação de nosso Deus (cf. Is 12,3) pelas cisternas secas dos homens (cf. Jr 14,3), abertas em corações vazios de amor. ( João de Araújo)
Pe. Valdiran dos Santos
(continua...)
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